O charme dos fios vermelhos
Matéria
publicada em 2012 no extinto site Acessando Moda, produto do meu Trabalho de
Conclusão de Curso.
Os ruivos são alvo de preconceito,
mas hoje muitas pessoas os admiram tanto que colorem os fios em tons
avermelhados
“Salsicha”,
“ferrugem”, “foguinho”, “pão com molho” e “pimenta” são apenas alguns apelidos
maldosos pelos quais os ruivos naturais, que possuem um fenômeno intitulado rutilismo,
são chamados. Mas esse preconceito não se resume apenas a apelidos. A
consultora de etiqueta e imagem Janaina Depiné, conta que “durante a Idade
Média as ruivas chegaram a ser acusadas de bruxaria e queimadas, pois o cabelo
vermelho seria um indício da atividade diabólica”.
Segundo a revista Mundo Estranho em pessoas ruivas ocorre uma mutação genética que altera a produção de feomelanina, de cor avermelhada ou amarelada, e eumelanina, de cor acastanhada ou preta, que são responsáveis pelo tom alaranjado dos cabelos. Ainda de acordo com eles, o surgimento de sardas, comum em pessoas ruivas, é como um efeito colateral.
Os ruivos representam cerca de 2% da população mundial, tendo sua maior concentração na Grã-Bretanha. “Na Escócia, uma em cada dez pessoas é ruiva”, lembra Janaina. Ela ainda informa que ruivos são geralmente canhotos e possuem olhos verdes por causa dos genes recessivos. “Como a mutação altera a pigmentação, ruivos costumam ter sardas. Esse gene (MC1R) também altera os receptores sensíveis a dor do cérebro. Por isso, segundo os pesquisadores, pessoas ruivas precisam, em média, 20% mais anestesia que pessoas não ruivas”, afirma. E, por se tratar de um gene recessivo, podem-se passar várias gerações em uma família sem que apareçam novos ruivos.
Janaina conta que embora seja difícil encontrar a época exata em que os ruivos começaram a sofrer preconceito, alguns pesquisadores acreditam que tudo originou-se da tensão histórica entre ingleses, irlandeses e escoceses. “No Reino Unido, cabelo vermelho é geralmente associado a pessoas de ascendência celta. Apesar do grande número de ruivos, há uma forte antipatia contra eles por lá. Tanto é que foi criado o termo gingerphobia (fobia a ruivos)”, relata.
Ruivos naturais ou por opção
Esse quadro de preconceito tem se amenizado nos últimos tempos. Hoje em dia é comum encontrarmos pessoas com cabelos avermelhados pela rua. A maioria não nasceu ruiva, mas escolheu colorir os fios nesse tom, desde as colorações mais claras, aproximando-se do natural, até as mais escuras, como o vermelho-cereja. “Sendo minoria entre as mulheres não há dúvida de que as ruivas chamam a atenção. O vermelho significa fogo e perigo, características que acabam sendo transmitidas para quem escolhe essa cor. Hoje essa coloração está associada à modernidade e ao temperamento forte”, explica Janaina. Ela diz que essa conquista de espaço das ruivas se deve ao fato de o vermelho ser mais incomum e destaca a presença de ruivas em desenhos, filmes e no imaginário masculino. Uma personagem bastante lembrada é Ariel, de A Pequena Sereia, da animação de 1989 da Disney. Outro exemplo de personagem é Jean Grey, de X-Men, que inspirou Alda Cristina Cunha da Rocha, webdesigner, a tingir seus fios. A moça também tem uma tatuagem da personagem no braço esquerdo.
Alda sofreu o preconceito de ser ruiva na pele. Embora tenha o cabelo naturalmente loiro, depois que ela adotou a coloração avermelhada nos fios já deixou de ser contratada por conta da cor. O tom escolhido por ela faz as pessoas acreditarem que é ruiva de nascença. “Sou super verdadeira e falo que não sou ruiva natural, a reação é sempre a mesma: de ficarem pasmos”, diz. Ela lembra que já aconteceu de um atendente de um café, que é ruivo natural, perguntar se ela é ruiva mesmo. “Eu fico feliz com essas confusões porque consigo meu objetivo, que é ser o mais natural possível”, conta. Ela ainda diz que optou por mudar a cor do cabelo porque acha que sua cor natural a desfavorece. “O loiro me deixa pálida e envelhecida. Ter cabelos cobres me deixa mais viva", garante.
Já Évelin Bandeira, atriz, possui o cabelo natural no tom castanho-avermelhado. Naturalmente ruiva, ela tinge os fios de um tom mais cobre, destacando ainda mais a cor. “As pessoas em geral, acreditam que sou ruiva na tonalidade exata que o meu cabelo está hoje, devido às sardas, tom de pele e sobrancelhas”, completa. Évelin também já sofreu preconceito, sendo chamada de “pimentinha, ferrugem e aquela que toma sol com a peneira”. Évelin, além de atriz, é blogueira no Pop Neon, que surgiu em 2009. De acordo com o FAQ do site (Frequently Asked Questions, ou Perguntas Frequentes, em português), uma das questões que ela mais recebe é “quero ser ruiva como você! Que cor de tinta você usa?” No caso de Évelin, tingir os fios para outro tom de vermelho deu certo. Mas Janaina ressalta que “a maioria das pessoas ruivas mantém a cor natural dos cabelos porque a sobrancelha e os pelos do corpo também são avermelhados e o rosto coberto de sardas, então, pintar os cabelos pode não combinar com todo o restante”, avisa.
Outra que apaixonou-se pelos fios acobreados foi Francine Bonfim, que não nasceu ruiva, mas aderiu aos cabelos vermelhos através da tintura, “meu cabelo natural é castanho escuro, quase preto. Escolhi vermelho porque acho muito bonita essa cor”. Ao contrário das outras meninas citadas na matéria, Francine nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por ter optado por essa coloração.
E depois de tanto preconceito os ruivos merecem esse momento de admiração por pessoas que mudam a cor de seus cabelos para tons avermelhados. “Nota-se que vem nascendo, muito estimulado pela facilidade da Internet, um ‘orgulho ruivo’. Têm ocorrido vários encontros de ruivos no país e recentemente uma exposição em Londres mostrou o trabalho da fotógrafa inglesa Jenny Wicks, que retratou o fascínio e o preconceito sofrido por pessoas ruivas”, fala Janaina. A exposição a que Depiné se refere aconteceu em 2009 e chama-se Raiz de Gengibre: Um estudo sobre cabelo vermelho e esteve em cartaz na Galeria Idea Gedneration.
Encontro de ruivos
Em 2 de setembro desse ano aconteceu um encontro de ruivos em Breda, na Holanda, com cerca de 1.400 participantes, vindos de 52 países. O encontro é organizado pelo ruivo Bart Rouwenhorst e ocorre anualmente, desde 2005. Aqui no Brasil, o I Encontro Nacional de Ruivos aconteceu poucos dias depois do da Holanda: entre os dias 7 a 9 de setembro, em São Paulo, onde compareceram em torno de 60 ruivos naturais. O encontro foi marcado pelo Facebook, através de um grupo do blog Ruivos Mania.
Segundo a revista Mundo Estranho em pessoas ruivas ocorre uma mutação genética que altera a produção de feomelanina, de cor avermelhada ou amarelada, e eumelanina, de cor acastanhada ou preta, que são responsáveis pelo tom alaranjado dos cabelos. Ainda de acordo com eles, o surgimento de sardas, comum em pessoas ruivas, é como um efeito colateral.
Os ruivos representam cerca de 2% da população mundial, tendo sua maior concentração na Grã-Bretanha. “Na Escócia, uma em cada dez pessoas é ruiva”, lembra Janaina. Ela ainda informa que ruivos são geralmente canhotos e possuem olhos verdes por causa dos genes recessivos. “Como a mutação altera a pigmentação, ruivos costumam ter sardas. Esse gene (MC1R) também altera os receptores sensíveis a dor do cérebro. Por isso, segundo os pesquisadores, pessoas ruivas precisam, em média, 20% mais anestesia que pessoas não ruivas”, afirma. E, por se tratar de um gene recessivo, podem-se passar várias gerações em uma família sem que apareçam novos ruivos.
Janaina conta que embora seja difícil encontrar a época exata em que os ruivos começaram a sofrer preconceito, alguns pesquisadores acreditam que tudo originou-se da tensão histórica entre ingleses, irlandeses e escoceses. “No Reino Unido, cabelo vermelho é geralmente associado a pessoas de ascendência celta. Apesar do grande número de ruivos, há uma forte antipatia contra eles por lá. Tanto é que foi criado o termo gingerphobia (fobia a ruivos)”, relata.
Ruivos naturais ou por opção
Esse quadro de preconceito tem se amenizado nos últimos tempos. Hoje em dia é comum encontrarmos pessoas com cabelos avermelhados pela rua. A maioria não nasceu ruiva, mas escolheu colorir os fios nesse tom, desde as colorações mais claras, aproximando-se do natural, até as mais escuras, como o vermelho-cereja. “Sendo minoria entre as mulheres não há dúvida de que as ruivas chamam a atenção. O vermelho significa fogo e perigo, características que acabam sendo transmitidas para quem escolhe essa cor. Hoje essa coloração está associada à modernidade e ao temperamento forte”, explica Janaina. Ela diz que essa conquista de espaço das ruivas se deve ao fato de o vermelho ser mais incomum e destaca a presença de ruivas em desenhos, filmes e no imaginário masculino. Uma personagem bastante lembrada é Ariel, de A Pequena Sereia, da animação de 1989 da Disney. Outro exemplo de personagem é Jean Grey, de X-Men, que inspirou Alda Cristina Cunha da Rocha, webdesigner, a tingir seus fios. A moça também tem uma tatuagem da personagem no braço esquerdo.
Alda sofreu o preconceito de ser ruiva na pele. Embora tenha o cabelo naturalmente loiro, depois que ela adotou a coloração avermelhada nos fios já deixou de ser contratada por conta da cor. O tom escolhido por ela faz as pessoas acreditarem que é ruiva de nascença. “Sou super verdadeira e falo que não sou ruiva natural, a reação é sempre a mesma: de ficarem pasmos”, diz. Ela lembra que já aconteceu de um atendente de um café, que é ruivo natural, perguntar se ela é ruiva mesmo. “Eu fico feliz com essas confusões porque consigo meu objetivo, que é ser o mais natural possível”, conta. Ela ainda diz que optou por mudar a cor do cabelo porque acha que sua cor natural a desfavorece. “O loiro me deixa pálida e envelhecida. Ter cabelos cobres me deixa mais viva", garante.
Já Évelin Bandeira, atriz, possui o cabelo natural no tom castanho-avermelhado. Naturalmente ruiva, ela tinge os fios de um tom mais cobre, destacando ainda mais a cor. “As pessoas em geral, acreditam que sou ruiva na tonalidade exata que o meu cabelo está hoje, devido às sardas, tom de pele e sobrancelhas”, completa. Évelin também já sofreu preconceito, sendo chamada de “pimentinha, ferrugem e aquela que toma sol com a peneira”. Évelin, além de atriz, é blogueira no Pop Neon, que surgiu em 2009. De acordo com o FAQ do site (Frequently Asked Questions, ou Perguntas Frequentes, em português), uma das questões que ela mais recebe é “quero ser ruiva como você! Que cor de tinta você usa?” No caso de Évelin, tingir os fios para outro tom de vermelho deu certo. Mas Janaina ressalta que “a maioria das pessoas ruivas mantém a cor natural dos cabelos porque a sobrancelha e os pelos do corpo também são avermelhados e o rosto coberto de sardas, então, pintar os cabelos pode não combinar com todo o restante”, avisa.
Outra que apaixonou-se pelos fios acobreados foi Francine Bonfim, que não nasceu ruiva, mas aderiu aos cabelos vermelhos através da tintura, “meu cabelo natural é castanho escuro, quase preto. Escolhi vermelho porque acho muito bonita essa cor”. Ao contrário das outras meninas citadas na matéria, Francine nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por ter optado por essa coloração.
E depois de tanto preconceito os ruivos merecem esse momento de admiração por pessoas que mudam a cor de seus cabelos para tons avermelhados. “Nota-se que vem nascendo, muito estimulado pela facilidade da Internet, um ‘orgulho ruivo’. Têm ocorrido vários encontros de ruivos no país e recentemente uma exposição em Londres mostrou o trabalho da fotógrafa inglesa Jenny Wicks, que retratou o fascínio e o preconceito sofrido por pessoas ruivas”, fala Janaina. A exposição a que Depiné se refere aconteceu em 2009 e chama-se Raiz de Gengibre: Um estudo sobre cabelo vermelho e esteve em cartaz na Galeria Idea Gedneration.
Encontro de ruivos
Em 2 de setembro desse ano aconteceu um encontro de ruivos em Breda, na Holanda, com cerca de 1.400 participantes, vindos de 52 países. O encontro é organizado pelo ruivo Bart Rouwenhorst e ocorre anualmente, desde 2005. Aqui no Brasil, o I Encontro Nacional de Ruivos aconteceu poucos dias depois do da Holanda: entre os dias 7 a 9 de setembro, em São Paulo, onde compareceram em torno de 60 ruivos naturais. O encontro foi marcado pelo Facebook, através de um grupo do blog Ruivos Mania.