Em abril de 1970 o baixista Paul McCartney anunciava o fim de uma das maiores bandas de todos os tempos: os Beatles. A partir daí, ele seguiu carreira solo com a ajuda de sua esposa Linda, com quem mais tarde formou a banda Wings. Os dois tiveram quatro filhos juntos: Heather (filha de Linda, adotada por Paul), Mary, Stella e James. Certo dia, num almoço em família, eles comiam cordeiro assado enquanto tinham uma conversa sobre filhotes de carneiros. Ao final da conversa, o casal percebeu que almoçavam justamente um desses animais e que não queriam mais contribuir com a morte deles: a partir desse dia, nunca mais a família comeu carne. Stella McCartney tinha cerca de sete anos na época e graças a essa atitude dos pais, hoje é estilista e ativista, dona da primeira grife global considerada realmente sustentável do mundo.
Em entrevista para a imprensa em 2014, Stella conta que cresceu dentro de uma fazenda orgânica, cercada pela natureza, vendo o impacto que as situações tinham no meio ambiente. “Meus pais sempre nos ensinaram que fazemos parte de um todo, e por isso aprendemos a respeitar os animais”, conta ela. De bons exemplos dentro de casa ela sempre esteve rodeada: sua mãe era ativista pela causa animal, inclusive da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), que hoje Stella também faz parte. Além disso, escreveu um livro com receitas vegetarianas e criou sua própria linha de alimentos congelados.
Hoje, a marca que leva o nome de Stella segue o mesmo exemplo: é realmente sustentável, pautada por escolhas que se baseiam no que é correto com a natureza. A própria estilista diz que, os tecidos utilizados, além de orgânicos ou reciclados, são tingidos com corantes naturais. Mas não para por aí: em suas coleções ela não usa couro, pelo, pena ou pele de animais, não prejudica a natureza com o uso de corantes artificiais, apoia fábricas de lã sustentáveis na Patagônia e só usa madeira certificada.
Para Stella, entre todas as atitudes sustentáveis, a mais difícil de lidar é com a troca do couro animal. As outras marcas de luxo dependem justamente de seus produtos de couro para gerar lucros. “Nós sabemos que a maioria das marcas de luxo são movidas por acessórios. Eles não vendem roupas. Você entra em uma loja de qualquer grande marca e encontra duas araras de roupas, o resto são bolsas, sapatos e artigos de couro. Isso é o que paga os seus salários", conta McCartney. Mas a pele é 20x mais prejudicial ao meio ambiente do que qualquer outro material natural ou sintético, com exceção do plástico PVC, que também é muito prejudicial. Há mais de 50 milhões de animais mortos apenas para a indústria de moda, afirma seu site oficial. E esses animais não são comidos depois. “Se tem alguém achando que os animais usados na indústria da moda são subprodutos, não são”, explica McCartney. Esses animais são criados e reproduzidos unicamente para serem mortos e se transformarem em artigos de luxo. "É medieval para mim que a indústria ainda mate milhões de animais por ano. O couro é uma das partes mais nocivas da moda. Não é um método de luxo”, justifica a estilista.
Mas é claro que a tarefa de substituir a pele animal não é nada fácil. É preciso testar uma variedade de tecidos que combinem diferentes misturas de fibras orgânicas e sintéticas, até conseguir encontrar um material que se assemelhe ao original. E quando se trata de sapatos, é mais difícil ainda, porque os materiais sintéticos são mais finos e menos elásticos. “Isso ocorre porque muitas técnicas industriais e máquinas utilizadas em lojas de couro não são adequadas para outros materiais”, segundo a estilista. Por causa disso, muitas peças são criadas à mão por artesãos e as bolsas da marca são produzidas por fábricas na Itália. O uso de cola para a finalização dos produtos também é cuidadosamente escolhida, sem ter nenhuma origem animal. E desde 2013, Stella trabalha com um material chamado Eco Alter Nappa, que é uma alternativa ao couro de sapatos e bolsas, feito de poliéster e poliuretano, revestido com óleo vegetal.
Não usar couro em seus produtos ajuda a marca a reduzir o impacto global de carbono. Carne e couro de produção são responsáveis por 18% de todos os gases de efeito estufa provocados pelo homem. Além disso, a pele usada para confecção de artigos de vestuário é carregada de produtos químicos cáusticos e tóxicos que impedem que o material se decomponha. Fora a química em que trabalhadores são expostos: em Bangladesh eles não têm expectativa de viver além dos 50 anos.
Em sua coleção de inverno 2016, desfilada em Paris, a estilista lançou uma linha de roupas de pele falsa com a etiqueta Fur Free Fur (pele sem pele), usada do lado de fora para indicar que a pele não é real. As peças se assemelham tanto com as feitas de couro que a estilista entrou em um dilema: “Será que isso poderia encorajar as pessoas a usarem pele de verdade?”, mas por fim, percebeu que com isso poderia provar o quanto o uso de couro animal é descartável.
Ela também procura por novas alternativas para os plásticos tradicionais, como por exemplo, o Bionic Yarn, feito de resíduos recolhidos do mar e das praias. O PVC (cloreto de polivinila) é o mais prejudicial de todos os plásticos para o meio ambiente, segundo o Greenpeace. “Nós não usamos PVC em nenhum dos nossos produtos - temos sido 100% livres de PVC desde 2010”, aponta seu site oficial, que ainda alerta: “a exposição a curto prazo de humanos ao PVC resultou em efeitos no sistema nervoso central, como tonturas, sonolência e dores de cabeça. A exposição a longo prazo pode resultar em danos no fígado e a um risco maior de câncer”. Todas as bolsas da grife são revestidas com poliéster que vem de garrafas PET recicladas ou bio-plásticos (feito à base de plantas). Por sua vez, todos os bio-plásticos da marca tem garantia de que as plantas usadas vem de fontes não alimentares e não causam qualquer dano à terra e nem contribuem com o desmatamento.
Mas as ações de Stella McCartney não se resumem a sua própria marca: suas colaborações comerciais com lojas como Adidas, GAP, L’Oréal, H&M e C&A, também reproduzem seus valores sustentáveis. Suas peças para a H&M foram um sucesso e esgotaram rapidamente. Por causa disso, posteriormente Stella uniu-se a H&M novamente, para um projeto que educa os consumidores sobre como fazer uma roupa durar mais, lavando menos.
A estilista reconhece que, apesar de sua marca ser apontada como um exemplo em sustentabilidade, ainda tem muito para caminhar. “Sabemos que não somos perfeitos. Sabemos também que a sustentabilidade não é apenas uma coisa, não é apenas o algodão orgânico - é o algodão orgânico, além de energia eólica, além de não usar PVC, além de milhares de outros pequenos passos que eventualmente tornam uma empresa mais responsável e ambientalmente consciente. Estamos apenas começando nossa jornada para sermos mais sustentáveis, vamos nos dedicar e continuar o nosso trabalho para substituir o que temos tomado do meio ambiente”.
Em entrevista para a imprensa em 2014, Stella conta que cresceu dentro de uma fazenda orgânica, cercada pela natureza, vendo o impacto que as situações tinham no meio ambiente. “Meus pais sempre nos ensinaram que fazemos parte de um todo, e por isso aprendemos a respeitar os animais”, conta ela. De bons exemplos dentro de casa ela sempre esteve rodeada: sua mãe era ativista pela causa animal, inclusive da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), que hoje Stella também faz parte. Além disso, escreveu um livro com receitas vegetarianas e criou sua própria linha de alimentos congelados.
Hoje, a marca que leva o nome de Stella segue o mesmo exemplo: é realmente sustentável, pautada por escolhas que se baseiam no que é correto com a natureza. A própria estilista diz que, os tecidos utilizados, além de orgânicos ou reciclados, são tingidos com corantes naturais. Mas não para por aí: em suas coleções ela não usa couro, pelo, pena ou pele de animais, não prejudica a natureza com o uso de corantes artificiais, apoia fábricas de lã sustentáveis na Patagônia e só usa madeira certificada.
Para Stella, entre todas as atitudes sustentáveis, a mais difícil de lidar é com a troca do couro animal. As outras marcas de luxo dependem justamente de seus produtos de couro para gerar lucros. “Nós sabemos que a maioria das marcas de luxo são movidas por acessórios. Eles não vendem roupas. Você entra em uma loja de qualquer grande marca e encontra duas araras de roupas, o resto são bolsas, sapatos e artigos de couro. Isso é o que paga os seus salários", conta McCartney. Mas a pele é 20x mais prejudicial ao meio ambiente do que qualquer outro material natural ou sintético, com exceção do plástico PVC, que também é muito prejudicial. Há mais de 50 milhões de animais mortos apenas para a indústria de moda, afirma seu site oficial. E esses animais não são comidos depois. “Se tem alguém achando que os animais usados na indústria da moda são subprodutos, não são”, explica McCartney. Esses animais são criados e reproduzidos unicamente para serem mortos e se transformarem em artigos de luxo. "É medieval para mim que a indústria ainda mate milhões de animais por ano. O couro é uma das partes mais nocivas da moda. Não é um método de luxo”, justifica a estilista.
Mas é claro que a tarefa de substituir a pele animal não é nada fácil. É preciso testar uma variedade de tecidos que combinem diferentes misturas de fibras orgânicas e sintéticas, até conseguir encontrar um material que se assemelhe ao original. E quando se trata de sapatos, é mais difícil ainda, porque os materiais sintéticos são mais finos e menos elásticos. “Isso ocorre porque muitas técnicas industriais e máquinas utilizadas em lojas de couro não são adequadas para outros materiais”, segundo a estilista. Por causa disso, muitas peças são criadas à mão por artesãos e as bolsas da marca são produzidas por fábricas na Itália. O uso de cola para a finalização dos produtos também é cuidadosamente escolhida, sem ter nenhuma origem animal. E desde 2013, Stella trabalha com um material chamado Eco Alter Nappa, que é uma alternativa ao couro de sapatos e bolsas, feito de poliéster e poliuretano, revestido com óleo vegetal.
Não usar couro em seus produtos ajuda a marca a reduzir o impacto global de carbono. Carne e couro de produção são responsáveis por 18% de todos os gases de efeito estufa provocados pelo homem. Além disso, a pele usada para confecção de artigos de vestuário é carregada de produtos químicos cáusticos e tóxicos que impedem que o material se decomponha. Fora a química em que trabalhadores são expostos: em Bangladesh eles não têm expectativa de viver além dos 50 anos.
Em sua coleção de inverno 2016, desfilada em Paris, a estilista lançou uma linha de roupas de pele falsa com a etiqueta Fur Free Fur (pele sem pele), usada do lado de fora para indicar que a pele não é real. As peças se assemelham tanto com as feitas de couro que a estilista entrou em um dilema: “Será que isso poderia encorajar as pessoas a usarem pele de verdade?”, mas por fim, percebeu que com isso poderia provar o quanto o uso de couro animal é descartável.
Ela também procura por novas alternativas para os plásticos tradicionais, como por exemplo, o Bionic Yarn, feito de resíduos recolhidos do mar e das praias. O PVC (cloreto de polivinila) é o mais prejudicial de todos os plásticos para o meio ambiente, segundo o Greenpeace. “Nós não usamos PVC em nenhum dos nossos produtos - temos sido 100% livres de PVC desde 2010”, aponta seu site oficial, que ainda alerta: “a exposição a curto prazo de humanos ao PVC resultou em efeitos no sistema nervoso central, como tonturas, sonolência e dores de cabeça. A exposição a longo prazo pode resultar em danos no fígado e a um risco maior de câncer”. Todas as bolsas da grife são revestidas com poliéster que vem de garrafas PET recicladas ou bio-plásticos (feito à base de plantas). Por sua vez, todos os bio-plásticos da marca tem garantia de que as plantas usadas vem de fontes não alimentares e não causam qualquer dano à terra e nem contribuem com o desmatamento.
Mas as ações de Stella McCartney não se resumem a sua própria marca: suas colaborações comerciais com lojas como Adidas, GAP, L’Oréal, H&M e C&A, também reproduzem seus valores sustentáveis. Suas peças para a H&M foram um sucesso e esgotaram rapidamente. Por causa disso, posteriormente Stella uniu-se a H&M novamente, para um projeto que educa os consumidores sobre como fazer uma roupa durar mais, lavando menos.
A estilista reconhece que, apesar de sua marca ser apontada como um exemplo em sustentabilidade, ainda tem muito para caminhar. “Sabemos que não somos perfeitos. Sabemos também que a sustentabilidade não é apenas uma coisa, não é apenas o algodão orgânico - é o algodão orgânico, além de energia eólica, além de não usar PVC, além de milhares de outros pequenos passos que eventualmente tornam uma empresa mais responsável e ambientalmente consciente. Estamos apenas começando nossa jornada para sermos mais sustentáveis, vamos nos dedicar e continuar o nosso trabalho para substituir o que temos tomado do meio ambiente”.
Texto originalmente publicado em meu blog pessoal.