Uma viagem pelos anos 70
Matéria
publicada em 2012 no extinto site Acessando Moda, produto do meu Trabalho de
Conclusão de Curso.
Das roupas coloridas ao som futurista de David Bowie, os anos
70 permanecem até hoje como fonte de inspiração.
Estampas
geométricas e psicodélicas, cores fortes, democratização do jeans, calças
boca-de-sino, brilho, cintura alta, mangas bufantes, macacões, minissaias e
roupas de academia popularizadas, são apenas alguns exemplos do legado deixado
pela moda dos anos 70. Essa década frequentemente serve de inspiração
para novas coleções de moda, seja nas cores, nos cortes ou apenas despertando a
criatividade dos designers de moda.
O estilista Gustavo Carvalho, mais conhecido por Guuh Green, enfatiza que a influência da década de 70 no universo da indumentária vai “desde os antimoda, que fugiam do padrão e apostavam no diferente, até a elegância das modelagens cintilantes de David Bowie”. Antimoda, como explica a designer de moda Thais Lee, foi um movimento que questionou os materiais, formas e funções das vestimentas. Thais salienta o destaque que a juventude teve enquanto agente social e político, adquiridos a partir dos anos 60. “Nos anos 70 essa corrente ganhou ainda mais impulso, os jovens se mostraram cada vez mais consumidores vorazes. Exigiam peças diferenciadas e acessíveis”, explica. Ou seja, “se antes os estilistas e as grandes marcas ditavam as tendências, nos anos 70 aconteceu o inverso: a moda era fabricada nas ruas. Até mesmo a estilista Mary Quant admitiu que a minissaia não nasceu em suas criações, e sim nas ruas”.
Maria Jessi de Lima, 64, empresária, entrou para o mundo da costura nessa época, influenciada por revistas. Ela conta que fazia roupas de crianças para vender e criava suas próprias roupas. Maria interessou-se por revistas que vinham com moldes de brinde e então sua chefe da época ensinou-a a costurar. “A primeira coisa que fiz foi um vestido cor-de-rosa bem claro. Ele tinha gola grande e botões até a cintura, algo típico dos anos 70", relembra. Na época, segundo Maria, as queridinhas eram as "calças, roupas de algodão e seda, golas gigantes, calças pantalonas e boca de sino que eram usadas inclusive por homens", informa.
Foi também nos anos 70 que surgiu a tendência sportwear, as famosas roupas de academia. Na época houve um aumento na preocupação com o corpo e a aparência física, como ressalta Thais. “As polainas, leggings e a meia-calça foram peças que marcaram essa tendência e que continuam até hoje”, explica.
Movimentos dos anos 70
A década de 70 se destacou por dois grandes movimentos de contracultura: o hippie, que teve seu início nos anos 60 e sobreviveu por dez anos, e o punk, que começou no final da década. Conforme conta o sociólogo Edgar Domingo de Albuquerque, o punk foi contra o movimento capitalista, a monarquia britânica e o imperialismo norte-americano. Já os hippies pretendiam se isolar da sociedade, criando comunidades próprias. Diferente deles, os punks conviviam no cenário urbano, sempre em conflito com a sociedade. “As manifestações punks dos anos 80 são agressivas, eles não estavam se posicionando apenas contrariamente a uma cultura, mas tentando derrubá-la” explica Edgar. O sociólogo complementa dizendo que, embora o punk não seja um movimento necessariamente violento, dependendo do indivíduo e do contexto, acabava tornando-se efetivamente uma agressividade física. Mas na maioria das vezes essa revolta era apenas simbólica, expressada através de letras de músicas e vestimentas.
A herança visual dos punks permanece até os dias atuais. Os cabelos moicanos e arrepiados que mostravam a revolta ao corte denominado padrão da época, as jaquetas de couro, coturno, roupas cheias de mensagens de protestos, rasgadas ou surradas podem ser vistas até hoje nas ruas. A moda rocker que vemos por aí, carregadas de caveiras, spikes ou tachas e couro sofreram influência vinda dos anos 70 e dos punks, mas Thais Lee lembra que hoje em dia elas foram reformuladas e atualizadas.
As roupas dos hippies também têm destaque. Eles usavam calça boca-de-sino, batas, saias compridas, lenços e botas, informa Thais.
E a música?
Elvis com cara de bom moço, o som dos Beatles e o rock’n’ roll de cara nova: uma verdadeira evolução musical explodiu a partir dos anos 50. Essa é a teoria do jornalista e músico Rafael Morais Vieira da Silva, que considera impossível falar dos anos 70 sem citar os anos anteriores. O crescimento musical, de acordo com ele, foi tanto que houve até certa rivalidade exagerada entre bandas britânicas: na época, a competição ficava entre o som dos Beatles e dos Rolling Stones. “Sempre era lançado algo parecido. Beatles lançava um albúm e meses depois os Stones lançavam um parecido, porém, mais rebelde. Isso ficou bem claro quando os Beatles lançaram o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band com a capa toda colorida e em seguida os Rolling Stones lançaram Their Satanic Majesties Request, com a capa muito parecida", declara.
De acordo com Rafael, em 1968, o que predominava era a psicodelia, e aí já começava a formar os traços dos anos 70. Nessa época Jimi Hendrix estourou com Jimi Hendrix Experience, embora antes já fizesse freelance com cantores de soul, como comenta o jornalista. Em seguida, "David Bowie veio com Space Oddity, que focava muito no homem na lua. A Corrida Espacial influenciou bastante a época, inclusive a banda Pink Floyd", completa o músico.
Nos anos 60, no Brasil, surgia o movimento da Tropicalia que para Rafael é "a versão brasileira dos hippies", com Caetano Veloso sendo um de seus principais representantes. A partir daí surgiram sucessos nacionais como Os Mutantes, que, na opinião do jornalista "foi o que mais destacou dessa época. Eles, inclusive, influenciaram o próprio Nirvana alguns anos mais tarde".
The Who é outra banda de destaque que tocava rock progressivo. Para Rafael, um bom disco deles para exemplificar é o Tommy, de 1969. “O álbum é conceitual e segue o estilo ópera rock, portanto, uma entrada para o rock progressivo”, informa o músico. A banda foi uma das primeiras a quebrar instrumentos no palco, mostrando sua revolta.
Até mais ou menos 1974 o que predominou foi o rock progressivo. "Existia música com 34 minutos, como por exemplo, Shine On You Crazy Diamond, do Pink Floyd, feita em homenagem a um ex-vocalista que enlouqueceu por uso de drogas", conta Rafael. Vieram, a partir daí, os punks. Muitos do movimento reclamavam que o rock progressivo era quase uma música clássica e não o verdadeiro rock 'n' roll. Surgiram então bandas como Sex Pistols e The Clash para mudar esse quadro.
Rafael diz que entre 1974 e 1978 mais ou menos, "o rock ficou mais forte, apareceu o hard rock e no Brasil surgiram bandas como Joelho de Porco, Legião Urbana, Barão Vermelho. Entre o punk e o hard rock surgia o Aborto Elétrico, banda em que os integrantes mais tarde se dividiriam entre Legião Urbana e Capital Inicial".
A quantidade de drogas na época era muito grande. Para Rafael, isso se dá pela grande liberdade que os hippies tentavam alcançar nos anos 60. "As pessoas começaram a conquistar tudo, a ideologia era a do rock, eles pensavam que tinham liberdade para tudo. Isso se mostra muito no filme Christiane F. - 13 anos, drogada e prostituída. Black Sabbath, por exemplo, era uma banda que fazia músicas com letras sobre drogas. No terceiro disco havia uma faixa dedicada à maconha. Apesar de não serem hippies, eram usuários também. As drogas não são uma marca apenas dos hippies. Eu vejo as drogas como o sinal máximo da rebeldia", ele completa.
Além do filme Christiane F., Rafael cita para quem quer entender mais sobre essa época o filme Jesus Cristo Superstar, com o vocalista do Deep Purple, Ian Gillan, no papel de Jesus. "O filme era uma crítica: 'será que Jesus era tão certinho?' É uma versão hippie de Jesus", conclui.
O estilista Gustavo Carvalho, mais conhecido por Guuh Green, enfatiza que a influência da década de 70 no universo da indumentária vai “desde os antimoda, que fugiam do padrão e apostavam no diferente, até a elegância das modelagens cintilantes de David Bowie”. Antimoda, como explica a designer de moda Thais Lee, foi um movimento que questionou os materiais, formas e funções das vestimentas. Thais salienta o destaque que a juventude teve enquanto agente social e político, adquiridos a partir dos anos 60. “Nos anos 70 essa corrente ganhou ainda mais impulso, os jovens se mostraram cada vez mais consumidores vorazes. Exigiam peças diferenciadas e acessíveis”, explica. Ou seja, “se antes os estilistas e as grandes marcas ditavam as tendências, nos anos 70 aconteceu o inverso: a moda era fabricada nas ruas. Até mesmo a estilista Mary Quant admitiu que a minissaia não nasceu em suas criações, e sim nas ruas”.
Maria Jessi de Lima, 64, empresária, entrou para o mundo da costura nessa época, influenciada por revistas. Ela conta que fazia roupas de crianças para vender e criava suas próprias roupas. Maria interessou-se por revistas que vinham com moldes de brinde e então sua chefe da época ensinou-a a costurar. “A primeira coisa que fiz foi um vestido cor-de-rosa bem claro. Ele tinha gola grande e botões até a cintura, algo típico dos anos 70", relembra. Na época, segundo Maria, as queridinhas eram as "calças, roupas de algodão e seda, golas gigantes, calças pantalonas e boca de sino que eram usadas inclusive por homens", informa.
Foi também nos anos 70 que surgiu a tendência sportwear, as famosas roupas de academia. Na época houve um aumento na preocupação com o corpo e a aparência física, como ressalta Thais. “As polainas, leggings e a meia-calça foram peças que marcaram essa tendência e que continuam até hoje”, explica.
Movimentos dos anos 70
A década de 70 se destacou por dois grandes movimentos de contracultura: o hippie, que teve seu início nos anos 60 e sobreviveu por dez anos, e o punk, que começou no final da década. Conforme conta o sociólogo Edgar Domingo de Albuquerque, o punk foi contra o movimento capitalista, a monarquia britânica e o imperialismo norte-americano. Já os hippies pretendiam se isolar da sociedade, criando comunidades próprias. Diferente deles, os punks conviviam no cenário urbano, sempre em conflito com a sociedade. “As manifestações punks dos anos 80 são agressivas, eles não estavam se posicionando apenas contrariamente a uma cultura, mas tentando derrubá-la” explica Edgar. O sociólogo complementa dizendo que, embora o punk não seja um movimento necessariamente violento, dependendo do indivíduo e do contexto, acabava tornando-se efetivamente uma agressividade física. Mas na maioria das vezes essa revolta era apenas simbólica, expressada através de letras de músicas e vestimentas.
A herança visual dos punks permanece até os dias atuais. Os cabelos moicanos e arrepiados que mostravam a revolta ao corte denominado padrão da época, as jaquetas de couro, coturno, roupas cheias de mensagens de protestos, rasgadas ou surradas podem ser vistas até hoje nas ruas. A moda rocker que vemos por aí, carregadas de caveiras, spikes ou tachas e couro sofreram influência vinda dos anos 70 e dos punks, mas Thais Lee lembra que hoje em dia elas foram reformuladas e atualizadas.
As roupas dos hippies também têm destaque. Eles usavam calça boca-de-sino, batas, saias compridas, lenços e botas, informa Thais.
E a música?
Elvis com cara de bom moço, o som dos Beatles e o rock’n’ roll de cara nova: uma verdadeira evolução musical explodiu a partir dos anos 50. Essa é a teoria do jornalista e músico Rafael Morais Vieira da Silva, que considera impossível falar dos anos 70 sem citar os anos anteriores. O crescimento musical, de acordo com ele, foi tanto que houve até certa rivalidade exagerada entre bandas britânicas: na época, a competição ficava entre o som dos Beatles e dos Rolling Stones. “Sempre era lançado algo parecido. Beatles lançava um albúm e meses depois os Stones lançavam um parecido, porém, mais rebelde. Isso ficou bem claro quando os Beatles lançaram o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band com a capa toda colorida e em seguida os Rolling Stones lançaram Their Satanic Majesties Request, com a capa muito parecida", declara.
De acordo com Rafael, em 1968, o que predominava era a psicodelia, e aí já começava a formar os traços dos anos 70. Nessa época Jimi Hendrix estourou com Jimi Hendrix Experience, embora antes já fizesse freelance com cantores de soul, como comenta o jornalista. Em seguida, "David Bowie veio com Space Oddity, que focava muito no homem na lua. A Corrida Espacial influenciou bastante a época, inclusive a banda Pink Floyd", completa o músico.
Nos anos 60, no Brasil, surgia o movimento da Tropicalia que para Rafael é "a versão brasileira dos hippies", com Caetano Veloso sendo um de seus principais representantes. A partir daí surgiram sucessos nacionais como Os Mutantes, que, na opinião do jornalista "foi o que mais destacou dessa época. Eles, inclusive, influenciaram o próprio Nirvana alguns anos mais tarde".
The Who é outra banda de destaque que tocava rock progressivo. Para Rafael, um bom disco deles para exemplificar é o Tommy, de 1969. “O álbum é conceitual e segue o estilo ópera rock, portanto, uma entrada para o rock progressivo”, informa o músico. A banda foi uma das primeiras a quebrar instrumentos no palco, mostrando sua revolta.
Até mais ou menos 1974 o que predominou foi o rock progressivo. "Existia música com 34 minutos, como por exemplo, Shine On You Crazy Diamond, do Pink Floyd, feita em homenagem a um ex-vocalista que enlouqueceu por uso de drogas", conta Rafael. Vieram, a partir daí, os punks. Muitos do movimento reclamavam que o rock progressivo era quase uma música clássica e não o verdadeiro rock 'n' roll. Surgiram então bandas como Sex Pistols e The Clash para mudar esse quadro.
Rafael diz que entre 1974 e 1978 mais ou menos, "o rock ficou mais forte, apareceu o hard rock e no Brasil surgiram bandas como Joelho de Porco, Legião Urbana, Barão Vermelho. Entre o punk e o hard rock surgia o Aborto Elétrico, banda em que os integrantes mais tarde se dividiriam entre Legião Urbana e Capital Inicial".
A quantidade de drogas na época era muito grande. Para Rafael, isso se dá pela grande liberdade que os hippies tentavam alcançar nos anos 60. "As pessoas começaram a conquistar tudo, a ideologia era a do rock, eles pensavam que tinham liberdade para tudo. Isso se mostra muito no filme Christiane F. - 13 anos, drogada e prostituída. Black Sabbath, por exemplo, era uma banda que fazia músicas com letras sobre drogas. No terceiro disco havia uma faixa dedicada à maconha. Apesar de não serem hippies, eram usuários também. As drogas não são uma marca apenas dos hippies. Eu vejo as drogas como o sinal máximo da rebeldia", ele completa.
Além do filme Christiane F., Rafael cita para quem quer entender mais sobre essa época o filme Jesus Cristo Superstar, com o vocalista do Deep Purple, Ian Gillan, no papel de Jesus. "O filme era uma crítica: 'será que Jesus era tão certinho?' É uma versão hippie de Jesus", conclui.